sábado, 17 de outubro de 2009

A linguagem e a argumentação















Para Medeiros/Tomasi(2007, p.17), "A LINGUAGEM VERBAL é uma faculdade que o homem utiliza para exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais denominado língua. Esse sistema organiza os signos e estabelece regras para seu uso. Assim, pode-se afirmar que qualquer tipo de linguagem desenvolve-se com base no uso de um sistema ou código de comunicação, a língua. A LINGUAGEM é uma característica humana universal, enquanto a língua é a linguagem particular de uma comunidade, um grupo, um povo".

Como afirma o mesmo, "O estudo da linguagem pode ser feito de diferentes formas: (1) dando relevância à língua, enquanto sistema de signos, ou como sistema de regras formais e, nesse caso, temos a Lingüística; (2) enfatizando normas de bem dizer e, nesse caso, temos a Gramática; (3) estabelecendo um novo modo de estudo, a análise do discurso, que não trata da língua nem da gramática, ainda que tudo isso lhe interesse. Trata do discurso, ou seja, da palavra em movimento, da prática da linguagem".

A linguagem é a expressão de idéias, motivações, sentimentos, autoridade, refletem os sentimentos em determinado período de tempo, dependendo do meio em que o indivíduo está inserido, das relações que ele realiza na sociedade, do histórico vivenciado pelas pessoas. Há um certo determinismo de como a linguagem influi na vida do indivíduo.

Como menciona Medeiros/Tomasi(2007, p.52), "O estudo do funcionamento da linguagem leva a uma noção de sujeito menos idealista, visto que o sujeito que elabora o discurso é um sujeito que existe socialmente. Ele tem apenas a ilusão discursiva de sujeito, uma vez que não é a fonte do sentido do que diz. Os sentidos que produz não nascem dele, mas ele apenas os retoma do contexto social". Por essa afirmação podemos compreender essa influência sócio-histórica no discurso do individuo, demonstrando que ninguém é "autor singular"de um texto, mas ratificador ou refutador de formações discursivas. Às vezes, nem percebendo isso, já que muitos dos discursos são tão populares que se desconhecem os legítimos autores, outras vezes, porque a repetição de uma formação discursiva leva o indivíduo a pensar que o discurso que ele transmite é seu, não se desconsidera o caráter inovador, já que a inovação não está nas idéias, porque todo texto necessita de um anterior que lhe dê embasamento, um ponto de partida; mas a forma como elas são apresentadas e a nova visão de mundo que é dada ao texto.

Reforçando a ideia de que o indivíduo, muitas vezes, não sabe de onde se originou os significados de determinadas palavras e origem discursiva, Medeiros/Tomasi(2007, p.53), afirma que "O sujeito da linguagem é afetado tanto pela língua quanto pela história e não tem controle sobre como elas o afetam, o que redunda em o sujeito discursivo funcionar pelo inconsciente e pela ideologia. As palavras ainda que do quotidiano nos chegam carregadas de sentido que não sabemos como se constituíram".

Em contrapartida, em relação à linguagem como ente comunicacional, em relação a seu conteúdo de transmissão de informações de indivíduos, linguagem no sentido de língua capaz de traduzir os sentimentos dos indivíduos, aquela composta de palavras carregadas de significados diferentes, dependendo do contexto nele inseridas. Afirma Citelli que "a palavra nasce neutra (em estado de dicionário), ao se contextualizar, ela passa a expressar valores e idéias, transitando ideologias, cumprindo um amplo espectro de funções persuasivas às quais não faltam a normatividade e o caráter pedagógico".

Persuasão é a maneira como a linguagem é disposta de maneira a convencer o receptor da informação que está sendo recebida, é um mecanismo de convencimento pela palavra, conseguida através de uma boa argumentação. Como diz Citelli(2005, p.14) "Quem persuade leva o outro a aceitar determinada idéia, valor, preceito".

A ideia de persuasão é concebida, por muitos, com um sentido depreciativo da palavra, sinônimo de enganar, pois por muito tempo utilizou-se a idéia de persuasão como convencimento de algo que não é verdadeiro, usar de argumentos para tornar uma mentira em verdade pela contravenção dos fatos, porque o objetivo da persuasão é construir uma verdade quase absoluta, utilizando-se de argumentos e provas para fins comprobatórios.

Após a conceituação de linguagem e persuasão, devemos compreender a inter-relação existente entre ambas, já que, para um texto se constituir altamente persuasivo, deverá prezar pelo bom uso da linguagem, de modo a dispô-lo de tal forma a persuadir o leitor à aceitação da idéia exposta no texto.

Nessa interação, também se insere a Retórica, que não é um tipo de persuasão, mas nos revela como se faz a persuasão visto ser analítica, descobrindo em cada momento o que é preciso para persuadir. A retórica buscava harmonizar, de modo elegante e convincente, a arte e o espírito.

A Retórica nasceu da necessidade de uma reflexão sobre a linguagem, começando a estudá-la como discurso capaz de persuadir o leitor, por isso delimita-se que o objetivo da retórica é mostrar o modo de constituiras palavras visando a convencer o receptor acerca de dada verdade.

Para melhor compressão, e para fins de esclarecimento do assunto, remetemo-nos a Antiguidade Clássica, berço dos grandes oradores e precursores da Arte Retórica, como afirma Citelli "visto que a preocupação com o domínio verbal nasceu entre os gregos", sendo tão necessário que "As escolas criaram, inclusive, disciplinas que melhor ensinassem as artes de domínio da palavra: a eloqüência, a gramática, a retórica, atestam algumas das evidências do conjunto de preocupações que marcaram a relação dos gregos com o discurso".

A origem dessa preocupação surgiu, porque, para algumas camadas sociais, era necessário o conhecimento das normas de boa argumentação. Este era um exercício de poder, sendo considerada para eles ciência e arte. Tendo como um dos maiores expoentes, o estagirita, Aristóteles (384-322 a.C.) com o livro "Arte retórica", um dos manuais clássicos para a compreensão da estruturação de um texto, para se produzir um texto persuasivo.

Com o passar dos séculos, o sentido da Retórica foi quase que totalmente modificado, passou de técnica para "enfeite", algo que prejudicou sobremaneira essa arte, que, para muitos, teve como época de declínio a fase Parnasiana, na qual os escritores tornaram o estilo como mero adereço do texto, eles apenas usavam para deixar o texto mais belo, porém com insuficiência de idéias.

Já que a Retórica tem como finalidade persuadir o leitor, aquilo era algo vazio, sem conteúdo nem significado. Com a retomada dos estudos da Retórica e retorno às concepções aristotélicas, renovou-se o sentido da "Arte retórica". Aos poucos, a Retórica ganhou seus ares clássicos e voltou ao status de ciência e arte, nos moldes gregos com aperfeiçoamentos modernos.

Nas novas formulações consideram-se também as figuras de linguagem no texto, já que elas são importantes recursos para prender a atenção do receptor naqueles argumentos articulados pelo discurso.

Para Citelli(2005, p.21) "As figuras ou translações, como as definem certos autores, cumprem a função de redefinir um determinado campo de informação, criando efeitos novos capazes de atrair a atenção do receptor. São expressões figurativas que conseguem quebrar a significação inicial, própria e esperada daquele campo de palavras".

A argumentação também exerce um papel importante na persuasão de um texto. Através dela, os raciocínios impulsionam o desenvolvimento de um determinado assunto. A argumentação pode ser feita através de vários raciocínios, como o dialético, apoditico ou retórico. Em ambos, busca-se a argüição do assunto de maneira eficaz para induzir o leitor a aceitar e crer nas idéias contidas no texto. Algumas estratégias de argumentação primam pelo desenvolvimento de um texto embasado em provas indiscutíveis, outras se utilizam do emocional, outras tendem a utilizar-se de sua autoridade para argumentar de modo a produzir uma verdade inquestionável.

Através de qualquer tipo de comunicação, todo o indivíduo o faz estabelecendo um modelo para o seu discurso. Esse modelo pode ser reconhecido, pela análise, como um tipo. Citelli e Medeiros/Tomasi se fundamentaram em Orlandi(1999) por considerar a relação da linguagem com suas condições de produção, consideram-no como de três tipos: o lúdico (poético), o polêmico e o autoritário.

Segundo Medeiros/Tomasi(2007, p.59), "Para distinguir um discurso, é necessário considerar o referente e os participantes do discurso, ou seja, o objeto do discurso e os interlocutores. O critério para a distinção está na relação entre os interlocutores e o referente, em suas condições de produção, e não deriva de critérios diretamente relacionados com a noção de instituição, ou normas institucionais, como o discurso religioso, jornalístico, jurídico. Também não se trata de distinção estabelecida por diferentes domínios do conhecimento, como por exemplo, discurso literário, teórico, cientifico; não se trata ainda de distinção estabelecida por critérios formais, como dissertação, descrição, narração. O critério adotado compreende a dimensão histórica e seu fundamento social enquanto capaz de absorver o conceito de interação".

Além disso, é de se salientar que essas formas de discursos não aparecem "puras", pode haver mais de um tipo de discurso em um texto, mas há a predominância de um desses tipos os quais serão descritos abaixo:

·Discurso lúdico – Trata-se da forma mais aberta e democrática do discurso, predomina um "menor grau" de persuasão. Neste tipo de discurso, o signo ganha uma dimensão múltipla de forte polissemia.

·Discurso polêmico – Há um centramento na relação dos interlocutores, aumentando o grau de persuasão. Neste tipo de discurso, o grau de polissemia tende a baixar.

·Discurso autoritário – O signo se fecha, predominando um caráter de "autoridade" sobre o assunto. Por isso, exemplarmente persuasivo, este discurso fixa-se num jogo parafrásico .






Fonte: http://webartigos.com/articles/4075/1/explanacao-sobre-linguagem-retorica-argumentacao-e-discurso/pagina1.html

Um comentário:

  1. Interessante esse texto, eudair! Muito legal.
    Achei bárbara a publicidade do cotonete no orelhão.

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