sábado, 17 de outubro de 2009

A linguagem e a argumentação















Para Medeiros/Tomasi(2007, p.17), "A LINGUAGEM VERBAL é uma faculdade que o homem utiliza para exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais denominado língua. Esse sistema organiza os signos e estabelece regras para seu uso. Assim, pode-se afirmar que qualquer tipo de linguagem desenvolve-se com base no uso de um sistema ou código de comunicação, a língua. A LINGUAGEM é uma característica humana universal, enquanto a língua é a linguagem particular de uma comunidade, um grupo, um povo".

Como afirma o mesmo, "O estudo da linguagem pode ser feito de diferentes formas: (1) dando relevância à língua, enquanto sistema de signos, ou como sistema de regras formais e, nesse caso, temos a Lingüística; (2) enfatizando normas de bem dizer e, nesse caso, temos a Gramática; (3) estabelecendo um novo modo de estudo, a análise do discurso, que não trata da língua nem da gramática, ainda que tudo isso lhe interesse. Trata do discurso, ou seja, da palavra em movimento, da prática da linguagem".

A linguagem é a expressão de idéias, motivações, sentimentos, autoridade, refletem os sentimentos em determinado período de tempo, dependendo do meio em que o indivíduo está inserido, das relações que ele realiza na sociedade, do histórico vivenciado pelas pessoas. Há um certo determinismo de como a linguagem influi na vida do indivíduo.

Como menciona Medeiros/Tomasi(2007, p.52), "O estudo do funcionamento da linguagem leva a uma noção de sujeito menos idealista, visto que o sujeito que elabora o discurso é um sujeito que existe socialmente. Ele tem apenas a ilusão discursiva de sujeito, uma vez que não é a fonte do sentido do que diz. Os sentidos que produz não nascem dele, mas ele apenas os retoma do contexto social". Por essa afirmação podemos compreender essa influência sócio-histórica no discurso do individuo, demonstrando que ninguém é "autor singular"de um texto, mas ratificador ou refutador de formações discursivas. Às vezes, nem percebendo isso, já que muitos dos discursos são tão populares que se desconhecem os legítimos autores, outras vezes, porque a repetição de uma formação discursiva leva o indivíduo a pensar que o discurso que ele transmite é seu, não se desconsidera o caráter inovador, já que a inovação não está nas idéias, porque todo texto necessita de um anterior que lhe dê embasamento, um ponto de partida; mas a forma como elas são apresentadas e a nova visão de mundo que é dada ao texto.

Reforçando a ideia de que o indivíduo, muitas vezes, não sabe de onde se originou os significados de determinadas palavras e origem discursiva, Medeiros/Tomasi(2007, p.53), afirma que "O sujeito da linguagem é afetado tanto pela língua quanto pela história e não tem controle sobre como elas o afetam, o que redunda em o sujeito discursivo funcionar pelo inconsciente e pela ideologia. As palavras ainda que do quotidiano nos chegam carregadas de sentido que não sabemos como se constituíram".

Em contrapartida, em relação à linguagem como ente comunicacional, em relação a seu conteúdo de transmissão de informações de indivíduos, linguagem no sentido de língua capaz de traduzir os sentimentos dos indivíduos, aquela composta de palavras carregadas de significados diferentes, dependendo do contexto nele inseridas. Afirma Citelli que "a palavra nasce neutra (em estado de dicionário), ao se contextualizar, ela passa a expressar valores e idéias, transitando ideologias, cumprindo um amplo espectro de funções persuasivas às quais não faltam a normatividade e o caráter pedagógico".

Persuasão é a maneira como a linguagem é disposta de maneira a convencer o receptor da informação que está sendo recebida, é um mecanismo de convencimento pela palavra, conseguida através de uma boa argumentação. Como diz Citelli(2005, p.14) "Quem persuade leva o outro a aceitar determinada idéia, valor, preceito".

A ideia de persuasão é concebida, por muitos, com um sentido depreciativo da palavra, sinônimo de enganar, pois por muito tempo utilizou-se a idéia de persuasão como convencimento de algo que não é verdadeiro, usar de argumentos para tornar uma mentira em verdade pela contravenção dos fatos, porque o objetivo da persuasão é construir uma verdade quase absoluta, utilizando-se de argumentos e provas para fins comprobatórios.

Após a conceituação de linguagem e persuasão, devemos compreender a inter-relação existente entre ambas, já que, para um texto se constituir altamente persuasivo, deverá prezar pelo bom uso da linguagem, de modo a dispô-lo de tal forma a persuadir o leitor à aceitação da idéia exposta no texto.

Nessa interação, também se insere a Retórica, que não é um tipo de persuasão, mas nos revela como se faz a persuasão visto ser analítica, descobrindo em cada momento o que é preciso para persuadir. A retórica buscava harmonizar, de modo elegante e convincente, a arte e o espírito.

A Retórica nasceu da necessidade de uma reflexão sobre a linguagem, começando a estudá-la como discurso capaz de persuadir o leitor, por isso delimita-se que o objetivo da retórica é mostrar o modo de constituiras palavras visando a convencer o receptor acerca de dada verdade.

Para melhor compressão, e para fins de esclarecimento do assunto, remetemo-nos a Antiguidade Clássica, berço dos grandes oradores e precursores da Arte Retórica, como afirma Citelli "visto que a preocupação com o domínio verbal nasceu entre os gregos", sendo tão necessário que "As escolas criaram, inclusive, disciplinas que melhor ensinassem as artes de domínio da palavra: a eloqüência, a gramática, a retórica, atestam algumas das evidências do conjunto de preocupações que marcaram a relação dos gregos com o discurso".

A origem dessa preocupação surgiu, porque, para algumas camadas sociais, era necessário o conhecimento das normas de boa argumentação. Este era um exercício de poder, sendo considerada para eles ciência e arte. Tendo como um dos maiores expoentes, o estagirita, Aristóteles (384-322 a.C.) com o livro "Arte retórica", um dos manuais clássicos para a compreensão da estruturação de um texto, para se produzir um texto persuasivo.

Com o passar dos séculos, o sentido da Retórica foi quase que totalmente modificado, passou de técnica para "enfeite", algo que prejudicou sobremaneira essa arte, que, para muitos, teve como época de declínio a fase Parnasiana, na qual os escritores tornaram o estilo como mero adereço do texto, eles apenas usavam para deixar o texto mais belo, porém com insuficiência de idéias.

Já que a Retórica tem como finalidade persuadir o leitor, aquilo era algo vazio, sem conteúdo nem significado. Com a retomada dos estudos da Retórica e retorno às concepções aristotélicas, renovou-se o sentido da "Arte retórica". Aos poucos, a Retórica ganhou seus ares clássicos e voltou ao status de ciência e arte, nos moldes gregos com aperfeiçoamentos modernos.

Nas novas formulações consideram-se também as figuras de linguagem no texto, já que elas são importantes recursos para prender a atenção do receptor naqueles argumentos articulados pelo discurso.

Para Citelli(2005, p.21) "As figuras ou translações, como as definem certos autores, cumprem a função de redefinir um determinado campo de informação, criando efeitos novos capazes de atrair a atenção do receptor. São expressões figurativas que conseguem quebrar a significação inicial, própria e esperada daquele campo de palavras".

A argumentação também exerce um papel importante na persuasão de um texto. Através dela, os raciocínios impulsionam o desenvolvimento de um determinado assunto. A argumentação pode ser feita através de vários raciocínios, como o dialético, apoditico ou retórico. Em ambos, busca-se a argüição do assunto de maneira eficaz para induzir o leitor a aceitar e crer nas idéias contidas no texto. Algumas estratégias de argumentação primam pelo desenvolvimento de um texto embasado em provas indiscutíveis, outras se utilizam do emocional, outras tendem a utilizar-se de sua autoridade para argumentar de modo a produzir uma verdade inquestionável.

Através de qualquer tipo de comunicação, todo o indivíduo o faz estabelecendo um modelo para o seu discurso. Esse modelo pode ser reconhecido, pela análise, como um tipo. Citelli e Medeiros/Tomasi se fundamentaram em Orlandi(1999) por considerar a relação da linguagem com suas condições de produção, consideram-no como de três tipos: o lúdico (poético), o polêmico e o autoritário.

Segundo Medeiros/Tomasi(2007, p.59), "Para distinguir um discurso, é necessário considerar o referente e os participantes do discurso, ou seja, o objeto do discurso e os interlocutores. O critério para a distinção está na relação entre os interlocutores e o referente, em suas condições de produção, e não deriva de critérios diretamente relacionados com a noção de instituição, ou normas institucionais, como o discurso religioso, jornalístico, jurídico. Também não se trata de distinção estabelecida por diferentes domínios do conhecimento, como por exemplo, discurso literário, teórico, cientifico; não se trata ainda de distinção estabelecida por critérios formais, como dissertação, descrição, narração. O critério adotado compreende a dimensão histórica e seu fundamento social enquanto capaz de absorver o conceito de interação".

Além disso, é de se salientar que essas formas de discursos não aparecem "puras", pode haver mais de um tipo de discurso em um texto, mas há a predominância de um desses tipos os quais serão descritos abaixo:

·Discurso lúdico – Trata-se da forma mais aberta e democrática do discurso, predomina um "menor grau" de persuasão. Neste tipo de discurso, o signo ganha uma dimensão múltipla de forte polissemia.

·Discurso polêmico – Há um centramento na relação dos interlocutores, aumentando o grau de persuasão. Neste tipo de discurso, o grau de polissemia tende a baixar.

·Discurso autoritário – O signo se fecha, predominando um caráter de "autoridade" sobre o assunto. Por isso, exemplarmente persuasivo, este discurso fixa-se num jogo parafrásico .






Fonte: http://webartigos.com/articles/4075/1/explanacao-sobre-linguagem-retorica-argumentacao-e-discurso/pagina1.html

sábado, 19 de setembro de 2009

Projeto LeiturAção


Projeto LeiturAção

O professor multiplicador de leitores
Elaine Maritza Silveira



“ Ao ouvir um poema ou história , entra-se no universo da língua que não é a de todo o dia, mas língua domingueira, cheia de cor, elegância, surpresas, caprichos.”
Marli Amarilho

A língua literária é algo especial, real.
A ficção proporciona a possibilidade de chorar, sorrir, sentir medo...

Por que ler?
“ O real é o pequeno. O real pouco nos explica. É no mais real que encontramos o equilíbrio, o bem estar. E o mais que real se situa no imaginário.”
Marina Colassanti

Por que queremos formar leitores?
Nenhuma outra forma de ler o mundo é tão eficaz e rica quanto a que a literatura- poesia, conto, romance, novela- permite.

Tudo é texto. Ecologia, geografia, cujo objetivo é muito claro, isto é, serve para adquirir conhecimento, e a linguagem literária tem como objetivo levar o leitor à fantasia, ao mundo poético.

Escola é lugar de literatura?
A escola é o lugar onde o aluno desperta o desejo de ler, mesmo que no princípio seja necessário “obrigar” o educando a ler, até chegar o momento em que poderá escolher e sentir o gosto pela leitura espontaneamente.

A leitura literária na escola
Na Educação Infantil:
a leitura literária é realizada diariamente, geralmente através de rodinha de leitura.
Nas Séries Iniciais: os momentos dedicados à leitura literária começam ficar mais espaçados. Agora o professor precisa “justificar” o tempo dedicado a leitura literária.
A Leitura Literária deixa de ser o momento lúdico e os livros passam a servir para “ensinar conteúdos” do programa de estudos.
A literatura perde sua função, pois, a função da literatura não deve ser didática, para ensinar conteúdos.
Nas Séries Finais: a leitura literária fica “confinada” nas aulas de Língua Portuguesa.
Tem-se a concepção de que somente o professor de Língua Portuguesa tem “obrigação” de falar de leitura literária;
A poesia e o conto servem apenas para trabalhar conteúdos gramaticais;
Livros fundamentais são trabalhados “aos pedaços”, através de fragmentos apresentados em livros didáticos.
Hora do conto para as 5ªs séries: dá-se a entender que “nós escolhemos “ quando eles precisam parar de ler.
No Ensino Médio: a leitura literária é apresentada (geralmente em fragmentos) exclusivamente para ensinar os estilos literários, os autores e as características de sua obra.
O vestibular: é o único motivo que garante a leitura.



Formar leitores: é possível?
 Criar condições de leitura não significa apenas levar os alunos à biblioteca uma vez por semana ou fazer uma indicação por trimestre.
 É importante criar uma atmosfera agradável, um ambiente que convide à leitura na própria sala de aula ou mesmo fora dela.
 É também necessário destinar tempo para a leitura literária, demonstrando assim, que essa é uma atividade nobre.
 A formação dos leitores de literatura não deve ser tarefa exclusiva dos professores de Língua Portuguesa, mas compromisso de todos os educadores.
 A leitura com objetivo de formar leitores não pode ser um trabalho esporádico.
 O texto literário deve ser explorado diariamente.
 A formação do pequeno leitor deve começar bem cedo e prosseguir em gradativos aprofundamento até o final do seu ciclo de estudos na escola.

Tudo começa com um professor apaixonado!

 A relação professor-texto-leitor exige que o professor seja um leitor, relatando aos alunos as suas experiências de leitura e demonstrando assim, que a leitura literária ocupa espaço importante em sua vida.

Para formar leitores
 Criar um ambiente leitor;
 Elaborar projetos de leitura;
 Incluir-se nos projetos, realizando as leituras e as atividades junto com os alunos;
 Propor atividades lúdicas sempre, não importando a série ou a idade dos alunos;
 Promover a troca de experiências de leitura;
 Estimular e promover a participação da comunidade escolar- pais, professores e funcionários.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Trabalhando TP4

    O aprendizado
e o desenvolvimento
da leitura e da escrita
ocorrem parte no cotidiano, no nosso dia-a-dia, e parte por meio de atividades sistemáticas na escola, com a utilização de reflexões sobre as práticas de nossa cultura e de outras culturas.


      Trabalhar a leitura e a escrita de forma eficiente depende do desenvolvimento atividades que nos levem a praticar e refletir sobre as diferentes situações sociocomunicativas, os gêneros, as técnicas de leitura e escrita, dependendo dos objetivos e temas propostos.


      Quando ensinamos-aprendemos dessa forma, desenvolvemos diferentes olhares sobre os nossos textos e os dos outros autores. O desenvolvimento das competências de leitura e escrita depende também da intervenção criativa, crítica e funcional do professor que planeja atividades e práticas de leitura e escrita que sejam prazerosas e significativas para os alunos.


Leia a seguir o depoimento de Patativa do Assaré quanto às suas práticas de leitura.


“Eu estudei só seis meses. Agora eu fui me valer do livro. Que não era o livro didático não. Eu não queria saber de categorias gramaticais não. Queria saber de outras coisas. Eu lia era revista, era livro, jornais. Eu queria era satisfazer minha curiosidade, não era ler gramaticalmente como vocês por aí não.


Neste globo terrestre


apresento os versos meus


porém eu só tive um mestre


e esse mestre é Deus.


    Foi a natureza mesmo. Muito curioso para saber as coisas, tudo o que eu lia eu gravava aqui na mente. Eu queria era ler as histórias, a vida da pátria e isso e aquilo, queria saber das coisas, não queria saber de livro de concordância e isso e aquilo.


    Agora, com essa prática de ler eu pude obter tudo, viu? Como se eu tivesse estudado pegado livros didáticos, livros lá de colegas, essas coisas, viu?


    Eu aprendi lendo. Com a prática de ler a gente vai descobrindo e sabe que nem pode dizer: tu sois e nós é. Eu aprendi com a prática.”


Feitosa, T. (Org.). Patativa do Assaré – digo e não peço segredo. São Paulo: Escrituras, 2003.
 
Leia agora o depoimento de Paulo Freire, contando como aprendeu a escrever quando ainda criança.


“Eu costumava acompanhar, do portão da minha casa, de longe, a figura magra de“acendedor de lampiões” de minha rua, que vinha vindo, andar ritmado, vara iluminadora ao ombro, de lampião em lampião, dando luz à rua. Uma luz precária, mais precária do que a que tínhamos dentro de casa. Uma luz muito mais tomada pelas sombras do que iluminadora delas.


     Não havia melhor clima para peraltices das almas do que aquele. Me lembro das noites em que, envolvido no meu próprio medo, esperava que o tempo passasse, que a noite se fosse, que a madrugada semiclareada viesse chegando, trazendo com ela o canto dos passarinhos “manhecedores”.


   Os meus temores noturnos terminavam por me aguçar. Nas manhãs abertas, a percepção de um sem-número de ruídos que se perdiam na claridade e na algazarra dos dias e que eram misteriosamente sublinhados no silêncio das noites.


    Na medida, porém, em que me fui tornando íntimo do meu mundo, em que melhor o percebia e o entendia na “leitura” que dele ia fazendo, os meus temores iam diminuindo.


     Mas, é importante dizer, a “leitura” do mundo, que me foi sempre fundamental, não fez de mim um menino antecipado em homem, um racionalista de calças curtas. A curiosidade do menino não iria distorcer-se pelo simples fato de ser exercida, no que fui mais ajudado do que desajudado por meus pais. E foi com eles, precisamente, em certo momento dessa rica experiência de compreensão do meu mundo imediato, sem que tal compreensão tivesse significado malquerenças ao que ele tinha de encantadoramente misterioso, que eu comecei a ser introduzido na leitura da palavra. A decifração da palavra fluía naturalmente da “leitura” do mundo particular. Não era algo que se estivesse dando superpostamente a ele. Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior de meus pais. O chão foi o meu quadro-negro; gravetos, o meu giz.”
Freire, P. A importância do ato de ler. São Paulo: Agir, 1996.
 
     Há algo em comum nas duas experiências de leitura e escrita relatadas pelos dois autores. Percebemos que ambos eram letrados antes de serem alfabetizados. Já faziam uma leitura de mundo de acordo com a realidade em que viviam.
 
    Nos defrontamos numa outra situação em que podemos fazer uma associação às avessas entre a concepção que o personagem Biá de Narradores de Javé tem a respeito do lápis e o poeta Leo Cunha estabelece com a caneta. Veja:
 
A mão do poeta
Poeta tem mão-de-obra.
                                    Leo Cunha


Poeta tem mão de fada.


Quando ele escreve, a caneta


voa que nem borboleta,


vira vareta encantada.


Não é mais caneta, não,


é varinha de condão.
 
 




Tijolo aqui, laje cá,


cola a rima, tira a sobra,


encontra a palavra mágica.



Segura a letra, senão


ela cai na contramão!



Poeta é também mão-leve.


Rouba os sonhos infantis,


sem platéia nem juiz,


mistura num caldeirão


e ninguém diz que ele escreve


versos de segunda mão.


[…]


Ciência Hoje das crianças: 16 (135), 2003.

     
     Muitos acreditam que ser escritor é um dom que a pessoa desenvolveria naturalmente e que, mesmo sem a intervenção de alguém, de um professor, escreveria bem.


    Esse fato leva as pessoas a pensarem que somente aqueles que nasceram com essa vocação poderiam se tornar bons escritores de textos literários e/ou de outros textos.


    Sendo um dom, vai se desvelando ao longo da vida como um novelo de lã. Essas formas de ver a vocação e o seu desenvolvimento podem levar a uma prática, na qual se acredita que cabe à escola apenas acalentar o gosto pela escrita, contribuindo com leituras e experiências em que o papel do professor se restringe a acompanhar o desenvolvimento a escrita enquanto o aluno estiver na escola.

      Outras pessoas não acreditam na existência de um dom que se desenvolveria sem intervenção, mas que há pessoas que, por algum motivo, desenvolveram uma habilidade diferenciada, uma facilidade para escrever. São as circunstâncias de vida que geram motivações para que alguém goste de escrever e até se torne escritor(a). Se é assim, a escola, então, tem que dar todo o apoio e o trabalho de sala de aula deve ser motivador, criativo e processual no qual todos, mesmo sendo diferentes quanto ao domínio de habilidades e competências, possam aprender. Nesse ambiente, a interação entre o professor e os alunos e dos alunos entre si facilitaria a troca de saberes. A criança e o adolescente experimentam com a escrita, e o professor influencia, sobremaneira, o desenvolvimento dessa competência, acreditando que todos possam tomar gosto pela escrita.


      Há, ainda, aqueles que acreditam no dom, mas que este deve ser despertado e desenvolvido com a contribuição da escola, que deveria oferecer todas as oportunidades para que aqueles que o tenham o desenvolvam sem maiores prejuízos.

     Quatro hipóteses importantes que influenciam a pedagogia da

escrita, além daquela relacionando a existência do dom com a produção de boa escrita, já apresentada anteriormente.


1) A escrita é uma transcrição da fala.


Por muito tempo na história da escrita na humanidade, a escrita foi utilizada com a função de transcrever a fala. Também na nossa história pessoal, quando estamos trilhando as primeiras etapas da sua aprendizagem, a escrita funciona como uma forma de transcrição da oralidade. No entanto, com as transformações da sociedade, novas necessidades comunicativas surgiram, fazendo que a escrita fosse usada com funções diferentes da fala.

3) Todo bom leitor é um bom escritor.



    Muitos pensam que, fazendo o aluno ler muito, naturalmente, ele desenvolverá a escrita. Sabe-se, no entanto, que, apesar de a leitura e a escrita serem processos relacionados, o aprendizado da escrita depende de uma boa orientação quanto às práticas de leitura dos diferentes gêneros na escola e, sobretudo, da prática da escrita em situações sociocomunicativas diversificadas. A leitura é uma prática necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento da escrita: aprende-se a escrever escrevendo.

4- Na escola escreve-se para produzir textos narrativos, descritivos e dissertativos.



     Quando pensamos nas práticas de escrita na escola, pensamos em narração, descrição e dissertação. No entanto outros textos são importantes no nosso cotidiano; a documentação, por exemplo, tem função de possibilitar o registro e a permanência das informações para as futuras gerações.


Unidade 14 Seções 1 e 2

Os objetivos da leitura: expectativas e escolhas de texto
  Objetivos que uma leitura pode ter. Lemos, entre muitos outros fins, para: 


· obter informações gerais,


· obter uma informação precisa,


· aprender determinado tópico,


· analisar e comparar dados ou posições,


· devanear, ou evadir-se.
 
      Tais objetivos  é que definem não só a procura do texto a ser lido como também os procedimentos de leitura e a compreensão dele, além do empenho feito no ato de ler.
   
      Na escola, uma questão fundamental a resolver é a dos objetivos de leitura dos alunos. O que eles lêem nos limites da escola quase sempre corresponde a objetivos de leitura do professor e da instituição escolar.

           Sabemos que qualquer experiência na vida de uma pessoa tende a ter melhores resultados quanto mais ela atende a objetivos claros e verdadeiros para o sujeito que a vivencia. Com a leitura não é diferente: quanto mais ela tiver um objetivo para o aluno, mais ele vai buscar o material mais adequado, ou vai ler com mais disposição o que lhe é oferecido, e com mais facilidade vai compreendê-lo.


  É essencial, pois, que o professor tente ajudar se aluno a desenvolver a consciência da importância, não só de ler, como também dos diferentes tipos de leitura. Isso não se consegue repetindo à exaustão o discurso de que “ler é preciso”, “ler é viajar”, “quem lê sabe mais”. O que nós, professores, temos de tentar a todo momento é conhecer os interesses dos alunos, ter clareza quanto ao que eles sabem e oferecer-lhe materiais e experiências de leitura capaz de mobilizá-los. Quer dizer: tornar a leitura verdadeiramente significativa implica criar nos alunos motivos para ler, ou, em outras palavras, ajudá-los a ter necessidade de ler.
   Outra questão a sublinhar é a da leitura por prazer, ou distração, ou entretenimento. Em geral, achamos que lemos por prazer o texto de literatura, por sua falta de objetivos práticos, sua “inutilidade”, no dizer do poeta Manoel de Barros. É a leitura de lazer, a que buscamos para ocupar nosso tempo livre. Para nós, a literatura cumpre mesmo esse objetivo, e é bom que ela proporcione prazer.
      Valendo-nos em parte de uma classificação de Foucambert, um dos maiores estudiosos das questões da leitura, podemos distinguir as seguintes formas de leitura, a partir de nossos objetivos:   


a) uma leitura exploratória, quando procuramos um trecho, um dado específico de um texto: caracteriza-se por produzir-se em saltos.


b) uma leitura seletiva, quando o propósito do leitor é definir a organização do texto, ou definir sua idéia global, comparar elementos: caracteriza-se pela combinação da leitura rápida de alguns trechos e de leitura lenta de outros.


c) uma leitura informativa, quando se procura uma informação pontual, como um número de telefone no catálogo, uma palavra no dicionário: caracteriza-se por uma busca rápida, facilitada por conhecimentos específicos, como a ordem alfabética.


d) uma leitura para um conhecimento global e básico de um texto, longo ou  não: caracteriza-se por ser uma leitura integral, mais comumente rápida.


e) uma leitura de fruição, buscando detalhes, desfrutando de aspectos de sua construção: caracteriza-se por ser lenta e, às vezes, pela releitura de partes.
    Nosso desafio é ajudar os alunos a terem necessidade de ler, buscar com eles as razões verdadeiramente pessoais para saber alguma coisa, ou viver determinada experiência, por meio da leitura.




Conhecimentos prévios interferem na produção de significado do texto?
           O conhecimento prévio é não somente o que o sujeito já sabe mas também o conjunto de valores que ele carrega pela vida afora, muitas vezes inconscientemente, em função dos mais diferentes tipos de experiências a que ele esteve e está exposto. Mais adiante, vamos observar isso, no estudo de um texto.

    O que o sujeito já sabe, no caso da leitura, diz respeito:

a) primeiramente, ao conhecimento linguístico, seja com relação ao vocabulário, ou às estruturas da língua;

b) ao conteúdo do texto a ser lido: há assuntos de que conhecemos tão pouco, que nem temos como ver motivos para ler um texto sobre tais temas. Ou o assunto é tratado com tal profundidade, com uma linguagem tão técnica, que nós, não especialistas na área, não temos como “entrar no texto”. Ou já sabemos bastante coisa sobre o assunto, mas ele é tão fascinante para nós, que procuramos ler tudo que aparece em torno dele;

c) ao conhecimento sobre as características do gênero do texto, o que pode ajudar muito, também, na sua compreensão. Palavras, no título de um livro, como Tratado, Dicionário, Balada, Contos, já nos permitem fazer previsões sobre seus conteúdos.
   Por sua vez, os valores que carregamos como resultados das diferentes aprendizagens surgidas das experiências constituem todos os nossos gostos, aversões, crenças, opiniões, princípios ideológicos e éticos, etc.


Narradores de Javé
Vestígios de letramento


          A trama de Narradores de Javé se desenvolve no cenário do sertão nordestino, na Bahia, em um vilarejo de Gameleira da Lapa, às margens do Rio São Francisco.Dirigido por Eliane Caffé o filme discute questões ligadas à memória histórica e suas “verdades”, flutuando entre as tradições oral e escrita.

       Em forma de “causo”, baseado na oralidade da história, Zaqueu, morador do antigo povoado faz a vez de “narrador no estilo arcaico”. O personagem conduz a narrativa utilizando o gênero memória. A memória do Vale de Javé se instaura nos eventos orais e é construída no embate das diferentes versões, além de haver o que se pode chamar de diálogo entre os três grandes gêneros literários na conceituação clássica: épico, em que predomina a objetividade, lírico no qual prevalece a subjetividade e o dramático, que os entrelaça.

         Na história aparece o típico falar rincão brasileiro, retratado por várias expressões hilárias que Biá solta espantosamente: piaba de silicone, tapioca de Exu, clone de miolo de pão, omelete de cupim e outros, valorizando a diversidade lingüística.

       Em face da ameaça de verem o lugarejo extinto pelo preço do progresso e grandes interesse por trás da modernidade, no caso da construção de uma usina hidrelétrica, os seus habitantes resolvem em assembleia, realizar um esforço “científico” de recuperação e escrita de suas grandes “histórias” do passado, na esperança de mostrar que o lugar é um patrimônio histórico a ser preservado e assim, evitar o seu desaparecimento. Surge então, a necessidade de um “salvador da pátria”, passando a partir daí, ser muito significativa a escolha de um escriba para realizar a tarefa de colocar no papel o memorial de Javé. A figura de Antônio Biá, com suas atitudes e falas contribuem para dar ênfase à sua tendência de escrivão, acrescentando ao seu trabalho fortes doses de imaginação ficcional.

       A prerrogativa de ser alfabetizado é que determinou a alcunha de escriba ao ex-carteiro e a “intimidade” com as letras podem ser comprovadas em algumas cenas em que ele explica os motivos de sua preferência pelo lápis ( em detrimento da caneta, que corre solta e não permite arrependimentos) e defende o embelezamento das histórias contadas pelos moradores do vilarejo, mesmo que isso significasse uma completa transformação dos fatos supostamente ocorridos,fazendo uso versões bem “floreadas” e tendenciosas.

      Com a incumbência de ouvir e fazer o registro das memórias do povo, Bia inicia sua odisséia. Esse gênero nos remete a algo de muito valor social, uma vez que a história só existe a partir da escrita, antes disso é só pré-história. Dessa forma, pode-se aferir que a escrita só assume seu valor real numa comunidade quando possui uma função social.

       Alguns traços bem marcantes da oralidade podem ser identificados na cidade de Javé quando fazem uso do boca a boca, das palavras cantadas como forma de delimitar as extensões de terras. A linguagem coloquial reproduz termos típicos que simbolizam os integrantes das comunidades ribeirinhas e nesses espaços podem ser observadas produções de letramento e que também são carregados de vários efeitos de sentidos para o povoado, por meio de algumas situações letradas mesmo que com baixo grau de escolarização e ou nenhum nível de alfabetização. Exemplos disso são as paredes da casa de Antônio Biá, que eram todas escritas, com ditos populares, parlendas, piadas, frases como “aqui mora um intelectual alcoólatra” e durante todo o filme é na casa dele que aparece uma estante de livros.

       Por outro lado, a escrita, para os moradores javélicos, nasce com certa finalidade, como se fosse uma arma para o combate com o opressor e para poder se falar com a língua dele. Isso demonstra que o primeiro motivo que leva a pessoa ou sociedade a se alfabetizar, geralmente é sua busca por poder ou sobrevivência.

       Em se tratando da construção da oralidade e escrita, pode-se concluir que o professor, assim como o personagem Biá como escriba, tem papel importante enquanto mediador do conhecimento. Ele é o guia para os alunos, fazendo intervenções para ajudá-los, orientando-os passo a passo para que avancem à medida que lhes são oferecidos novos desafios, partindo sempre do conhecimento experiencial para novas proposições de ensino, para que os mesmos sejam sujeitos da história e agentes de transformação social no meio em que vivem.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

LETRAMENTO, LEITURA E ESCRITA


Letramento
onde, como e por que foi criado este termo?

O vocábulo é um tanto quanto fora do comum para muitos profissionais da área da educação e, principalmente, para os acadêmicos desse setor. Há alguns anos,pode-se dizer que menos de vinte, esse vocábulo surgiu entre os linguistas e estudiosos da língua portuguesa, e então passou a ter veiculação no setor educacional.



Constatou-se que uma das primeiras menções feitas deste termo ocorreu em no mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística (1986) por Mary A. Kato, segundo Magda Soares (2003: 15). A mesma registra, nesta obra, que foram feitas buscas em dicionários da língua portuguesa quanto ao significado da palavra, no dicionário Aurélio, por exemplo, nada foi encontrado, bem como também, não foi encontrado o verbo “letrar”, porém, o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa de Caldas Aulete, com edição constando de mais de um século, contém o verbete com o simples significado de “escrita”. Ela ressalta, ainda, que no mesmo dicionário esse vocábulo é classificado como “antiquado”. Ora, logo, este termo caiu em desuso há bastante tempo em nossa língua. Então, por que este termo tem sido utilizado agora com certa freqüência nos campos educacionais e linguísticos?

Nos dicionários da língua portuguesa o termo alfabetizado diz respeito ao indivíduo que somente aprendeu a ler e escrever, não se diz que é o que adquiriu o estado ou condição de quem se apossou da leitura e da escrita, e que responde de maneira satisfatória as demandas das práticas sociais. Ainda, ampliando a abrangência da alfabetização, podemos analisá-la à medida que esta reproduz a “formação social existente, ou como um conjunto de práticas culturais que promove a mudança emancipadora” (DONALDO, 1990: 10).

Leda Verdiani Tfouni, em “Letramento e alfabetização” (1995), afirma que a alfabetização, por muitas vezes, está sendo mal entendida:

Há duas formas segundo as quais comumente se entende a alfabetização: ou como um processo de aquisição individual de habilidades requeridas para a leitura e escrita, ou como um processo de representação de objetos diversos, de naturezas diferentes. O mal-entendido que parece estar na base da primeira perspectiva é que a alfabetização é algo que chega a um fim, e pode, portanto, ser descrita sob a forma de objetivos instrucionais. Como processo que é parece-me antes que o que caracteriza a alfabetização é a sua incompletude.

Com isso, fica subentendido, pelo aspecto sociointeracionista, que a alfabetização do individuo, é algo que nunca será alcançado por completo, não há um ponto final. A realidade é que existe a extensão e a amplitude da alfabetização no educando, no que diz respeito às práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. Neste âmbito, muitos estudiosos discutem a necessidade de se transpor os rígidos conceitos estabelecidos sobre a alfabetização, e assim, considerá-la como a relação entre os educandos e o mundo, pois, este está em constante processo de transformação.


E o indivíduo para não ser atropelado e marginalizado pelas mudanças sociais deverá acompanhar, através da atualização individual, o processo que levará ao crescimento e desenvolvimento.


Não que o educando não tenha qualquer saber antes da alfabetização, pelo contrário, sabemos que todo indivíduo possui, de alguma forma, níveis de conhecimento. E, isto, foi muito bem discorrido por Paulo Freire:

O ato de ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra. Até mesmo historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo, depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as palavras.

Esse é um ponto de suma importância para aqueles que pretendem despojar-se dos restritos, e incisivos, conceitos em que a alfabetização é estabelecida em termos mecânicos e funcionais.


Mas, afinal, por que e para que surgiu o que se denominou letramento?

Por todo o tempo em que já vivemos como uma sociedade grafocêntrica, tem-se conhecimento sobre a problemática da falta do saber ler e escrever. Com isso, gerou-se uma crescente preocupação em desenvolver um controle sobre essa questão, através de muitos estudos e ações com o objetivo de erradicar o problema, logo, foi preciso criar um termo e fazê-lo conhecido no campo da pesquisa, surgindo o “analfabetismo”. Mas, observou-se que para o estado / condição daquele que sabe ler e escrever, e, que responde de maneira ampla e satisfatória as demandas sociais fazendo uso de alguma maneira da leitura e escrita, ainda não havia uma denominação. Mais tarde, isso se fez necessário devido à constatação de uma nova situação: de que não basta apenas o saber ler e escrever, necessário é saber fazer uso do ler e do escrever, saber responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz. Então, o nome letramento surgiu mediante a esta nova constatação.

Quando fatos “novos” são constatados, ou surgem novas idéias à respeito de fenômenos, depara-se com a necessidade de se criar novos vocábulos ou nomes para se tratar com determinados assuntos (SOARES, 2003). Ou seja, freqüentes mudanças sociais geram novas demandas sociais de uso da leitura e da escrita, logo, gerando novos termos específicos.

O letramento é um fenômeno de cunho social, e salienta as características sócio-históricas ao se adquirir um sistema de escrita por um grupo social. Ele é o resultado da ação de ensinar e/ou de aprender a ler e escrever, e denota estado ou condição em que um indivíduo ou sociedade obtém como resultado de ter-se “apoderado” de um sistema de grafia.

Letramento e alfabetização - onde está a diferença?

A alfabetização, como já mencionamos, se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo. Enquanto o letramento “focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade” (TFOUNI, 1995), e ainda, é o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita. Um exemplo do que acabamos de mencionar (SOARES, 2003: 56-57):

Analfabetismo no primeiro mundo? (...) quando os jornais noticiam a preocupação com altos níveis de ‘analfabetismo’ em países como os Estados Unidos, a França, a Inglaterra; surpreendente porque: como podem ter altos níveis de analfabetismo países em que a escolaridade básica é realmente obrigatória e, portanto,praticamente toda a população conclui o ensino fundamental (que, nos países citados, tem duração maior que a do nosso ensino fundamental - 10 anos nos Estados Unidos e na França, 11 anos na Inglaterra). É que, quando a nossa mídia traduz para o português a preocupação desses países, traduz illiteracy (inglês) e illetrisme (francês) por analfabetismo. Na verdade, não existe analfabetismo nesses países, isto é, o número de pessoas que não sabem ler ou escrever aproxima-se de zero; a preocupação, pois, não é com os níveis de analfabetismo, mas com os níveis de letramento, com a dificuldade que adultos e jovens revelam para fazer uso adequado da leitura e da escrita: sabem ler e escrever, mas enfrentam dificuldades para escrever um ofício, preencher um formulário, registrar a candidatura a um emprego – os níveis de letramento é que são baixos.

Há verificações de que a concepção de alfabetização também reflete diretamente no processo de letramento. Por outro lado, o que também se observa é que, com frequência, estes dois de maneira confusa têm sido fundidos como um só processo. Essa confusão implica no exercício de um e de outro. Pois, onde entra a alfabetização? E o letramento? Ou, se trabalham os dois simultaneamente?

Se afirmamos que a alfabetização é algo que não tem um ponto final, então dizemos que ela tem um continuum, e ainda, poderíamos dizer que este é o letramento. Com isto, acordamos que os dois processos andam de mãos dadas. Não queremos estabelecer uma ordem, ou seqüência, pois já defendemos que todo tipo de indivíduo possui algum grau de letramento, mesmo que seja mínimo.


O que pretendemos é incentivar o educador a fazer uso do conhecimento nato de mundo que o educando possui e sua relação com a língua escrita, assim ele poderá alfabetizar letrando.

Ao saber de algumas distinções básicas destes dois termos poderíamos, também, levantar questões sobre as desigualdades de alfabetizado para letrado. Uma nota no livro “Letramento: um tema em três gêneros” de Magda Soares (2003: 47) faz um apanhado, sobre o assunto, visto de uma maneira prática e real. O texto exemplifica como um adulto pode até ser analfabeto, contudo, pode ser letrado, ou seja, ele não aprendeu a ler e escrever, todavia, utiliza a escrita para escrever uma carta através de um outro indivíduo alfabetizado, um escriba, mas é necessário enfatizar que é o próprio analfabeto que dita o seu texto, logo, ele lança mão de todos os recursos necessários da língua para se comunicar, mesmo que tudo seja carregado de suas particularidades.

Ele demonstra com isso que conhece, de alguma forma, as estruturas e funções da escrita. O mesmo faz quando pede para alguém ler alguma carta que recebeu, ou texto que contém informações importantes para ele: seja uma notícia em um jornal; itinerário de transportes; placas; sinalizações diversas. Este indivíduo é analfabeto, não possui a tecnologia da decodificação dos signos, mas, ele possui um certo grau de letramento devido a sua experiência de vida em uma sociedade que é atravessada pela escrita, logo, este é letrado, porém não com plenitude.


Esse exemplo nos remete a outro, muito conhecido, que talvez não tenha sido percebido por quem assistiu, é a personagem de Fernanda Montenegro no filme “Central do Brasil” de Walter Salles, que fez uso de sua capacidade de ler e escrever uma profissão, a de “escriba”, já quase desconhecida, em que a personagem escrevia correspondências para pessoas analfabetas em troca de dinheiro. Os indivíduos que a usavam como ferramenta para se envolver em uma prática social, a de se corresponder, mesmo que indiretamente, utilizavam os códigos da escrita.E, de forma peculiar a sua condição eles demonstram possuir características de grupos letrados.

Ainda na nota de Magda Soares (2003: 47) eles também exemplificam o caso de uma criança que mesmo antes de estar em contato com a escolarização, e que não saiba ainda ler e escrever, porém, tem contato com livros, revistas, ouve histórias lidas por pessoas alfabetizadas, presencia a prática de leitura, ou de escrita, e a partir daí também se interessa por ler, mesmo que seja só encenação, criando seus próprios textos “lidos”, ela também pode ser considerada letrada.E ainda, há casos de indivíduos com variados níveis de escolarização e alfabetização que apresentam níveis baixíssimos de letramento, alguns “quase” nenhum. Estes, são capazes de ler e escrever, contudo, não possuem habilidades para práticas que envolvem a leitura e a escrita: não lêem revistas, jornais, informativos, manuais de instrução, livros diversos, receita do médico, bulas de remédios, ou seja, apresentam grandes dificuldades para interpretar textos lidos, como também podem não ser capazes de sequer escrever uma carta ou bilhete. Todavia, gostaríamos de destacar que nessa nota acima mencionada diz também que esse tipo de indivíduo pode ser uma pessoa alfabetizada, mas não é letrada; neste ponto divergimos, por acreditarmos que a possibilidade de uma pessoa possuir grau zero de letramento não exista, em se tratando deste viver em uma sociedade grafocêntrica.

Com tudo isso, há pelo menos uma constatação: existem diferentes tipos e níveis de letramento,e estão eles ligados às necessidades e exigências de uma sociedade e de cada indivíduo noseu meio social.


Sociedade letrada/iletrada- indivíduo letrado/iletrado


Há uma definição única e restrita quanto ao conceito de sociedade letrada/iletrada, bem como indivíduo letrado/iletrado?

Os dicionários da língua portuguesa definem os vocábulos letrado e iletrado, por exemplo, no dicionário Aurélio o verbete letrado é definido como “que ou quem é versado em letras; erudito”.No entanto, iletrado “que ou quem não tem conhecimentos literários; analfabeto ou quase”. Mediante essas definições percebemos que esses adjetivos não tem relação com o sentido do letramento, pelo qual estamos tratando. Os termos que, normalmente, são abordados em


trabalhos sobre o letramento não se assemelham ao dos dicionários, e ainda, tambémpoderíamos considerá-los como novos vocábulos.

 
O papel do educador no letramento como “professor-letrador”
Paulo Freire afirma que para o educador, o ato de aprender “é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito”. Esta constatação não está relacionada somente ao educando, pois sabemos que o educador tem que estar sempre adquirindo novos aprendizados, lançando-se a novos saberes, e isto, resulta em mudanças de


vários aspectos, como também, gera o enriquecimento tanto para o educador quanto para o educando, que com certeza lucrará com esse desenvolvimento. Então, necessário é que o educador atente-se para aquilo que é sumariamente importante na sua formação, ou seja, “o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática”, e, “quanto mais inquieta for uma pedagogia, mais crítica ela se tornará” (FREIRE, 1990). O mesmo afirma que a pedagogia se tornará crítica se for investigativa e menos certa de certezas, pois o ato de educar não é uma doação de conhecimento do professor aos educandos, nem transmissão de idéias, mesmo que estas sejam consideradas muito boas. Ao contrário, é uma contribuição no “processo de humanização”.

Processo este de fundamental papel no exercício de educador que acredita na construção de saberes e de conhecimentos para o desenvolvimento humano, e que para isso se torna um instrumento de cooperação para o crescimento dos seus educandos, levando-os a criar seus próprios conceitos e conhecimento.


O profissional de educação deve ser capaz de fazer sua interferência na realidade, o que certamente, gerará novos conhecimentos, e isto, é bem mais elevado do que simplesmente se enquadrar na mesma. Já mencionamos por várias vezes que o letramento é um fenômeno social; logo, essa intervenção que se faz necessária pode ser proporcionada por ele.Para o educador se tornar um “professor-letrador” necessário se faz que, primeiramente, obtenha informações a respeito do tema, as suas dimensões e, sobretudo, a sua aplicação. Essa última é desenvolvida através de pesquisas e investigação, que geram subsídios-suportes.

Entretanto, medrar subsídios para educadores é uma tarefa difícil de ser exercida, pois sabemos que alguns desses profissionais, num determinado momento, se colocam em uma posição quase inatingível, completos de suas certezas. Porém, se há mutações contínuas na sociedade contemporânea, e essas refletem em todos os setores, inclusive na escola, é lógico que a cristalização dos saberes do educador é um equívoco, pois o conhecimento nunca se completa, ou se finda, e o letramento é um exemplo claro disso.

Reconhecidamente, enfatizamos a importância da aplicação, ou a prática do letramento por parte do professor, e em análise, ainda não finalizada, destacamos alguns passos fundamentais para o desempenho do papel do “professor-letrador”:


1) investigar as práticas sociais que fazem parte do cotidiano do aluno, adequando-as à sala de aula e aos conteúdos a serem trabalhados;
2) Planejar suas ações visando ensinar para que serve a linguagem escrita e como o aluno poderá utilizá-la;
3) Desenvolver no aluno, através da leitura, interpretação e produção de diferentes gêneros de textos, habilidades de leitura e escrita que funcionem dentro da sociedade;
4) Incentivar o aluno a praticar socialmente a leitura e a escrita, de forma criativa, descobridora, crítica, autônoma e ativa, já que a linguagem é interação e, como tal, requer a participação transformadora dos sujeitos sociais que a utilizam;
5) Recognição, por parte do professor, implicando assim o reconhecimento daquilo que o educando já possui de conhecimento empírico, e respeitar, acima de tudo,esse conhecimento;


6) Não ser julgativo, mas desenvolver uma metodologia avaliativa com certa sensibilidade, atentando-se para a pluralidade de vozes, a variedade de discursos e linguagens diferentes;


7) Avaliar de forma individual, levando em consideração as peculiaridades de cada indivíduo;


8) Trabalhar a percepção de seu próprio valor e promover a auto-estima e a alegria de conviver e cooperar;

9) Ativar mais do que o intelecto em um ambiente de aprendizagem, ser professor-aprendiz tanto quanto os seus educandos; e


10) Reconhecer a importância do letramento, e abandonar os métodos de aprendizado repetitivo, baseados na descontextualização



Fonte: eduquenet.net/letramento.htm




sexta-feira, 21 de agosto de 2009

DA ESCURIDÃO SE FEZ POESIA




Da escuridão se fez poesia


Haja luz!E tudo se fez poesia.


No primeiro verso do poeta,


Que da escuridão,


Tudo tornou belo.





Preciosas palavras,


Que através delas


Esse majestoso autor


Tudo formou,Tudo criou.





Bela poesia,


Que conta uma história de amor,


De um poeta que só sabia amar


E através de belos versos,


Uma beleza sem igual,


Primeiro casal,


Primeiro par.





Amor que aos dois une,


Sentimento que mutuamente se nutre,


Entre versos e poeta.


Nós somos versos


De uma bela poesia,


Do poeta que se fez verbo


Para amar cada vez mais


E no toque de seu abraço,


Trazer a paz.





Para os seus


Que há muito esqueceu


Da beleza da poesia


E das palavras do poeta


Que a tudo vida deu.





E agora na morte


Uma nova poesia


Escrita com sangue e dor


O verbo deu sua vida


Como versos de amor.





Para reescrever a história


E recriar os versos


Para uma nova poesia.





Haja amor!


Primeiro verso declamou


Que da escuridão


Nova poesia formou.





Thiago Azevedo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

SOBRE POEMAS E POESIAS






É bom destacar a diferença entre poema e poesia. Apesar de serem tratadas por muitos como sinônimos, o uso dos dois termos entre os estudiosos apresenta diferenças, a saber:




1.1 Poesia: Caráter do que emociona, toca a sensibilidade. Sugerir emoções por meio de uma linguagem. (FERREIRA, 1993)


1.2 Poema: Obra em verso em que há poesia.Se o poema é um objeto empírico e se a poesia é uma substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência concreta e a segunda não. Ou seja: o poema, depois de criado, existe per si, em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas a poesia só existe em outro ser: primariamente, naqueles onde ela se encrava e se manifesta de modo originário, oferecendo-se à percepção objetiva de qualquer indivíduo; secundariamente, no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta (ou não) objetivá-la num poema; terciariamente, no próprio poema resultante desse trabalho objetivador do indivíduo-poeta. (LYRA, 1986)


O poema destaca-se imediatamente pelo modo como se dispõe na página. Cada verso tem um ritmo específico e ocupa uma linha. O conjunto de versos forma uma estrofe e a rima pode surgir no interior dessa estrofe. A organização do poema em versos pode ser considerada o traço distintivo mais claro entre o poema e a prosa (que é escrita em linhas contínuas, ininterruptas).No Cruz e Sousa das obras iniciais, há esse poema, considerado um marco do Simbolismo no Brasil, no qual o autor se vale das figuras de linguagens (aliteração, sinestesia), que revela, então o uso da poesia, tão eloqüente no quarteto:


Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas



ATIVIDADE TP3 GÊNEROS POESIA E POEMA ( Leitura dos textos das páginas 67 a 87 e do Artigo " Sobre Poemas e Poesias" da autora Anna Helena Altenfelder )
1.Com base na leitura do material referido no item 1, responda:

a) Como ensinar a produção de poemas?

Através leitura de muitos poemas, reflexão sobre a situação de produção, atividades para que se apropriem de recursos poéticos e possam utilizá-los com facilidade. Alguma inspiração também é necessária para que os poemas aconteçam

b) Há diferença entre poema e poesia? Como explicar isso a um aluno?

Segundo o Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, poesia é a "Arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados". No mesmo dicionário, poema é definido como: "Obra, em verso ou não, em que há poesia", ou seja: quando falamos em poema, estamos nos referindo a textos que têm ritmo e sonoridade próprios e contêm poesia; quando falamos de poesia, nos referimos àquilo que torna um texto poético. O que torna um texto poético é o sentido artístico que seu autor consegue imprimir ao que escreve.

3.ler e selecionar um poema de um autor contemporâneo conhecido (livre escolha)

MINHA MORTE NASCEU QUANDO EU NASCI




Minha morte nasceu quando eu nasci...
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em que vivi

Já não tem mais aquele jeito amigo
De rir que, aí de mim, também perdi
Mas inda agora a estou sentindo aqui,
Grave e boa, a escutar o que lhe digo:

Tu que és minha doce prometida,
Nem sei quando serão nossas bodas,
Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...
E as horas lá se vão, loucas ou tristes...

Mas é tão bom, em meio às horas todas,
Pensar em ti...saber que tu existes!

Mário Quintana

4. Com base no trabalho realizado no encontro anterior, preveja etapas de leitura de um texto do gênero poético, escolhido no item 2, para serem aplicadas numa suposta turma de 5a. a 8a. série do ensino fundamental.

MINHA MORTE NASCEU QUANDO EU NASCI ( Mário Quintana)


MINHA MORTE NASCEU QUANDO EU NASCI ( Mário Quintana)

Atividades para o momento da pré-leitura

1. Iniciar a tarefa de leitura deixando que os alunos visualizem somente o título do poema.
2. Estimular os alunos a inferirem sobre a história do nascimento do autor, ativando o conhecimento prévio deles a partir do título do mesmo. Algumas questões podem ser levantadas ,contudo, deve-se evitar conduzir as hipóteses dos alunos sobre o texto.
3 .Proporcionar a leitura silenciosa para que possam refletir , seguida pela leitura audível. Nesse momento, novos questionamentos poderão ser realizados, visando intermediar na compreensão da história do nascimento com a relação que Mário faz com a morte como um todo. Sobre o que trata o texto? O que poderia representar a infância para o autor? Qual a ideia que ele procurou transmitir com a associação entre a morte e o nascimento? Por que será que diz: “minha morte nasceu quando eu nasci”? O professor poderá falar brevemente sobre figuras de linguagem.

Atividades para durante a leitura

1.Apresentar o poema e fazer uma leitura compartilhada do texto, com ritmo e harmonia.

MINHA MORTE NASCEU QUANDO EU NASCI

Minha morte nasceu quando eu nasci...
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em que vivi
Já não tem mais aquele jeito amigo
De rir que, aí de mim, também perdi
Mas inda agora a estou sentindo aqui,
Grave e boa, a escutar o que lhe digo:
Tu que és minha doce prometida,
Nem sei quando serão nossas bodas,
Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...
E as horas lá se vão, loucas ou tristes...
Mas é tão bom, em meio às horas todas,
Pensar em ti...saber que tu existes!

Mário Quintana

2. Após a leitura compartilhada, levantar algumas questões relacionadas ao texto. Exemplos: Que tipo de texto é esse? Do que ele trata? As palavras nele contidas sugerem um sentido denotativo ou conotativo? Que postura devemos adotar diante da representação da morte em nossas vidas?
3. Favorecer para que os próprios alunos infiram no texto e exteriorizem suas diferentes leituras quanto ao conteúdo lido. Um único texto oferece diferentes possibilidades de leitura, assim como vários textos podem oferecer a mesma leitura. Isso acontecerá segundo o conhecimento de mundo de cada leitor e é isto que torna tão rico o trabalho aqui proposto. Poderão surgir debates sobre assuntos polêmicos como reencarnação, vida após a morte e outros. O educador deverá estar preparado para interagir junto a seus alunos, aproveitando as diferentes interpretações dadas ao texto. Deve ainda valorizar todos os pontos de vista apresentados, porém sempre primando pela melhoria das relações dos alunos entre si e com as demais pessoas de seus convívios. Nessa parte do trabalho, poderá ainda levar reportagens para que os alunos compreendam a necessidade de tratar vários assuntos polêmicos abertamente.

• Atividades para o momento da pós- leitura

1. Propor aos alunos uma ação, ou melhor, uma atuação que traduza o conteúdo debatido ou estudado. Cada equipe deverá produzir algo como uma esquete, um teatro, cartazes, desenhos, slogans e outros. Nesse ponto, será possível detectar até onde a proposta de leitura terá sido construtiva.